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Vendedor de macacões sobrevive após era Senna e não consegue largar emprego

UOL Esporte

21/11/2013 06h00

Maurício Dehò
Do UOL, em São Paulo

Em 2014, completa-se 20 anos da morte de Ayrton Senna. A memória está viva na mente de boa parte dos brasileiros, e um paulista em especial fará um outro "aniversário" perto desta data. Ele é Victor Junior, um veterano vendedor que é figurinha carimbada nas ruas de São Paulo. Quem passa aos fins de semana pela Avenida Rebouças, uma das mais movimentadas vias da cidade, já viu seu Fiat Uno estacionado e seus produtos: macacões infantis inspirados na Ferrari. Aos 68 anos, ele admite que gostaria de se aposentar, mas os pedidos dos compradores o mantém na ativa

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A carreira de vendedor das "fantasias", como ele chama seus macacões, começou com Senna. Mas hoje tudo é vermelho, inclusive seu carro, comprado especificamente desta cor para ajudar nos negócios.

"A criançada adora a Ferrari, é a equipe que a molecada mais gosta. Mas eles estão dando mancada faz tempo. Depois da parafusada, o (Felipe) Massa não correu mais", corneta ele. Apesar da crítica, ele admite que seus negócios pouco são influenciados pelos resultados. Mesmo que Massa não fosse para a Williams e o Brasil ficasse sem pilotos na Fórmula 1, ele previa continuar vendendo seus produtos.

Victor Junior é mais vendedor do que entusiasta do automobilismo. Ele sempre comercializou produtos na rua: de cata-ventos (ele diz que foi precursor do brinquedo em São Paulo) a fantasias dos Bananas de Pijama, mas ele se encontrou mesmo com a venda dos macacões.

"Comecei pelo incentivo do Senna. O mundo inteiro era fã do Senna, um maluco que corria daquele jeito na chuva. Ele virou uma epidemia e quando ele morreu, mais ainda. Todo mundo queria um souvenir. E eu tinha que trazer um pouco deste sonho para as crianças", conta ele, num domingo ensolarado em São Paulo.

"Quando ele estava naquele sucesso todo, comecei a vender as fantasias. Quando ele morreu, disparou a vender. É como cantor, que não vende disco, mas quando morre acaba o estoque", compara ele.

Hoje, os macacões infantis são vendidos em dois tamanhos e custam R$ 200 ou R$ 250. Há procura até de turistas brasileiros e estrangeiros. Mas os negócios são irregulares. Há meses em que ele fica três fins de semana sem vender. "Você veio aqui e me pegou com sorte. Este fim de semana já vendi quatro. Estava até pensando em parar, minha esposa até comemorou", diz o vendedor. "Aqui é tudo para a sobrevivência. Se eu tivesse rico, não estaria de Fiat Uno"

O veterano conta que muitas vezes vê jovens de 20 e poucos anos pararem seus carros, descerem e começarem a contar histórias dos macacões que lhes foram dados há muito tempo pelos seus pais. Mas ele não se apega tanto a isso.

PATROCINADORA DA FERRARI APROVA

  • Victor Junior deixa transparecer que o fato de fazer macacões muito semelhantes aos usados na Fórmula 1 preocupa por conta dos direitos das marcas. Mas, por outro lado, ele ganhou apoio de uma das patrocinadoras da Ferrari.O vendedor tem como seu ponto de vendas a frente de uma agência do Banco Santander, que estampa sua marca nos carros da escuderia italiana. E a direção da unidade vê com bons olhos ele fazer seus negócios por lá. "Queria ou não, sou propagandista deles. O pessoal me encorajou a ficar vendendo aqui", explica ele, que não troca de local nem na época do GP do Brasil, para não ter de ligar com fiscais e outros vendedores.


Victor Junior deixa transparecer que o fato de fazer macacões muito semelhantes aos usados na Fórmula 1 preocupa por conta dos direitos das marcas. Mas, por outro lado, ele ganhou apoio de uma das patrocinadoras da Ferrari.

O vendedor tem como seu ponto de vendas a frente de uma agência do Banco Santander, que estampa sua marca nos carros da escuderia italiana. E a direção da unidade vê com bons olhos ele fazer seus negócios por lá. "Queria ou não, sou propagandista deles. O pessoal me encorajou a ficar vendendo aqui", explica ele, que não troca de local nem na época do GP do Brasil, para não ter de lidar com fiscais e outros vendedores.

"Eu sempre fui vendedor de rua. Se vender banana fosse melhor que macacão, venderia banana. Ganho minha vida deste jeito, sou humilde mas não sou burro", afirma Victor. "Eu já me senti mal de trabalhar nas esquinas em vez de ser um engravatado. Uma vez tentei, mas deu uma semana e desisti, não era pra mim. Voltei para a rua."

Para seus fins de semana de "escritório", Victor põe seus óculos escuros, acha uma sombra para se sentar – os 68 anos pesam para que ele fique em pé tentando "catar" clientes – e só aguarda. Ele admite que gostaria de parar.

"Mas não dá… O pessoal me pede, ainda tem muita gente que quer comprar as fantasias. Então eu continuo."

Macacão da Red Bull fracassou

Com seu faro de vendedor, Victor Junior é claro que tentou surfar na onda do jovem Sebastian Vettel, mais jovem tetracampeão da história da Fórmula 1. Ele chegou a ter à disposição para vendas os macacões azuis da Red Bull. Mas rapidamente viu que a iniciativa não tinha futuro.

"Eu tentei. Os macacões eram azuis, bonitos. Mas os pais começaram a chegar aqui, olhar e me disseram que não podiam levar para as crianças. Tudo porque o Red Bull é aquela bebida energética", admitiu ele.

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