Lutadores topariam até ensaio nu para ir às Olimpíadas

Crédito das fotos: Flávio Florido/UOL – Jorge Araújo/Folhapress

Diogo Silva e Marcio Wenceslau, dois dos principais nomes do taekwondo brasileiro, vivem uma situação nova em suas vidas. Após perderem patrocínio da Petrobrás e incentivos do COB, ambos iniciaram, na última semana, um projeto de financiamento coletivo para disputar o Aberto da Rússia.

Um dos campeonatos do circuito europeu, a competição é parte da preparação dos atletas para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. Sonho de Diogo Silva, o lutador brinca até com a possibilidade de posar nu para realizar o desejo.

"Não estamos nisso por dó, ou para alguém fazer um favor. Só sei que não vamos desistir por falta de dinheiro. Se tiver de fazer propaganda nu para ganhar dinheiro, vamos fazer. Não que isso seja real, nem pensamos nisso, mas queremos dizer que vamos fazer o possível para realizar esse sonho. Depois do Brasil, não temos nenhuma outra chance, vamos aposentar, então será especial", disse Diogo Silva em entrevista ao UOL Esporte.

Apesar de toda a vontade dos lutadores, a primeira meta, o torneio russo, está longe de ser alcançada. Restando 21 dias de captação, os dois possuem apenas 15% do valor necessário. Eles têm R$ 1,9 mil dos R$ 12,5 mil que precisam.

O próprio Márcio Wenceslau não põe tantas esperanças no projeto. Ele tem consciência de que o valor necessário é alto e de que o objetivo é ambicioso. "Eu acho muito difícil conseguirmos, mas o não a gente já tinha, estamos correndo atrás do sim".

Já Diogo ainda acredita que esse número possa crescer na reta final. Mas, caso não consiga, ele garante que não haverá nenhum desespero.

"Esse campeonato é apenas um dos europeus, se não der, vamos tentar para outras competições. Sem desespero. A expectativa é boa, não estamos desesperados. Se não der, vamos tentar outras formas. No Brasil, tem aquela história de fazer as coisas de última hora. Então, acho que podemos conseguir um investimento maior na última semana", falou o atleta.

Dentre as pessoas que entraram em contato para cogitar um investimento, Diogo Silva destaca Emanuel, jogador de vôlei de praia. "O Emanuel é uma pessoa comprometida, sabe o que passamos para disputar essas competições", completou.

Esta não é a primeira vez que a dupla de lutadores toma uma iniciativa como esta. No Pan-Americano no Rio em 2007, Diogo e Marcio venderam seus carros para financiar um treinamento na Europa e acabaram conquistando um ouro e uma prata, respectivamente. Além disso, Marcio também tirou dinheiro do próprio bolso para abrir um centro de treinamento em São Paulo.

Tudo isso porque, como desta vez, não haviam recebido qualquer ligação ou apoio do Comitê Brasileiro Olímpico ou da Confederação Brasileira de Taekwondo.

"A sensação que tenho é igual o conflito entre Israel e Palestina. Não falamos a mesma língua, vivemos em conflito. Nós não tínhamos a obrigação de fazer isso. Isso deveria ser gestão deles. A relação é de desgaste, já nos reunimos, pontuamos para um direcionamento, mas sempre acontece o mesmo", finaliza o lutador.

Márcio compartilha do mesmo sentimento e diz ter desistido de esperar alguma resposta das entidades, mesmo sabendo que ele deveria receber o apoio. "A gente vai desanimando. Vamos vendo coisas e sabemos que se ficar dependendo disso não vai pra frente. Eu tenho uma filha, então é fora da realidade isso (o investimento próprio), eu estou fazendo o que eu não posso fazer. Mas eu estou sendo guerreiro. Eu já fui guerreiro uma vez e já conquistei meus objetivos, então eu quero fazer isso de novo."

Em seu histórico, o Pódio Brasil já conseguiu duas captações para atletas. Talisca Reis, lutadora de Taekwondo, precisava de R$ 4 mil para disputar o Aberto do Canadá e conseguiu R$ 4,19 mil. Já Carlos Luciano, do vôlei de praia, conquistou R$ 1,58 mil dos R$ 1,5 mil que eram necessários para disputar seis etapas do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia.

Leandro Carneiro e Júlia Caldeira
Do UOL, em São Paulo