Profissionais de e-sports já ganham tanto dinheiro quanto astros do futebol
Ser um atleta tradicional, especialmente jogador de futebol, ainda é o sonho de muitos. Mas há um nicho que gera cada vez mais atenção, admiração e dinheiro: são os pro players, termo usado para designar um jogador profissional de videogame – um mercado que já movimenta milhões e conta com seus grandes astros.
É importante destacar que os milionários contratos firmados entre players e suas equipes não são abertos ao público. Ou seja, os valores mencionados abaixo correspondem apenas às quantias pagas em premiações. Falar de salário é uma tarefa muito mais difícil, mas há um exemplo: foi vazado, no fim do ano passado, o acordo entre o sul-coreano Lee "Faker" Sang-hyeok e o time SK Telecom T1, de "League of Legends": 2,5 milhões de dólares por ano (quase R$ 8 milhões).
A carioca Nicolle Merhy, mais conhecida como "Cherrygumms" ("chicletes de cereja", em inglês), tem 20 anos e é dona e capitã da equipe Black Dragons, dividida em times de oito jogos diferentes e 60 cyber-atletas. Mas seu carro-chefe é o "Rainbow Six Siege", game de tiro com o qual a BD, como é conhecida entre os fãs, foi vice-campeã mundial em maio deste ano.
Criada em 1997, é a equipe de e-sports mais antiga do Brasil e tem a jovem como player reserva, já que cada time de "Rainbow Six" conta com 5 titulares. Ou seja, ela paga o próprio salário. "Hoje a principal renda da BD vem de patrocínios. Temos dois patrocinadores: Acer [fabricante de computadores], com um valor fixo mensal, e Twitch [serviço de transmissão online], com metas", explicou Nicolle, a Cherry, ao UOL Esporte.
Se a estudante de direito parece jovem demais para comandar um time multicampeão, a divisão de e-sports do Flamengo vai além: está aos cuidados da empresa Cursor eSports, que tem João Sobreira, de 17 anos, como seu CEO. Os atletas administrados por ele e Cherrygumms não recebem só salário: o dinheiro também vem na forma de premiações pelo bom desempenho em campeonatos.
O site especializado e-Sports Earnings aponta que o Brasil é, atualmente, 12º colocado na lista de países com pro players mais endinheirados e premiados do mundo. A China ocupa o primeiro lugar; na sequência, estão EUA, Coreia do Sul, Suécia, Dinamarca, Alemanha, Canadá, Rússia, Ucrânia, França e Reino Unido.
O Brasil aparece como o mais bem posicionado na América do Sul. O Chile aparece apenas em 47º e a Argentina – que não tem um Messi entre os players – está em 51ª.
Ao contrário do que o ranking de países indica, a maior premiação do mundo não pertence a um chinês. Trata-se do alemão Kuro Takhasomi, o "KuroKy". Aos 24 anos de idade, ele já acumulou 3,3 milhões de dólares (pouco mais de R$ 10 milhões, segundo a cotação atual) em prêmios como profissional de "Dota 2".
O jogador sofreu de uma deficiência nas pernas durante a infância, mas relata que a característica física, até então vista como "fraqueza", foi o que o levou aos videogames.
Em segundo lugar aparece Amer Barqawi, o "Miracle". Filho de uma polonesa, nasceu há 20 anos na Jordânia e já acumulou 3 milhões de dólares (R$ 9,5 milhões), também jogando "Dota 2".
O Brasil aparece com quatro nomes na lista dos 100 players que mais faturaram com premiações.
Gabriel "FalleN" Toledo é o 'garoto de ouro' do país. Recebeu 600 mil dólares (quase R$ 2 milhões) em prêmios conquistados com o "Counter-Strike: Global Offensive", o popular "CS: GO".
Ele nasceu em Itararé-SP há 25 anos, mas foi em uma lan house em Itapetininga, também no interior de São Paulo, que acabou apresentado ao universo dos jogos FPS – sigla que, neste contexto, significa first-person shooter (jogos de tiro em primeira pessoa, como o "CS" e o "Rainbow Six"). FalleN, por sinal, é palmeirense.
Desde quando videogame dá dinheiro?
O "pro" em pro player não está ali por frescura: a rotina desses cyber-atletas inclui treinos que podem durar de 8 a 12 horas por dia. A Associação Brasileira de Clubes de eSports (ABCDE, excelente sigla) já determinou que jogadores e treinadores de "League of Legends" precisam ter registro na CTPS, a Carteira de Trabalho e Previdência Social, e contratos que respeitem as regras da Lei Pelé. Aquela mesma legislação que você já conhece dos esportes tradicionais.
Assim como um atleta de futebol deixa a família antes das partidas e parte para a concentração, os gamers treinam juntos em uma casa chamada de gaming house. Os jogos mencionados acima, como o tático "Rainbow Six Siege", exigem estudo e um profundo trabalho estratégico. Tudo levado extremamente a sério, o que acaba com qualquer rótulo de que videogame "é só brincadeira".
Ana Carolina Silva
Do UOL, em São Paulo
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